Forças talibãs tomaram no último domingo (08/08) as cidades de Kunduz e Sar-e-Pul, no norte do Afeganistão, aumentando, assim, para quatro o número de sedes regionais conquistadas em três dias. Essas foram as primeiras vitórias dos fundamentalistas islâmicos desde o início da retirada das tropas de paz internacionais. A ocupação de novas áreas se intensificou durante a semana e, hoje (14/08), o Talibã já domina cerca de 65% do território afegão. Especialistas acreditam que a capital, Cabul, será tomada em 90 dias.

Após dias de fortes combates, Kunduz e Sar-e-Pul, sedes das províncias homônimas, passaram a estar sob o poder do Talibã. De acordo com fontes militares e representantes das duas regiões, as Forças Armadas nacionais atualmente só ocupam espaços limitados, como um aeroporto e uma base militar. “Toda Kunduz caiu em mãos dos talibãs, só o aeroporto provincial está sob controle das forças de segurança”, relatou a deputada Nelofar Koofi, que representa a província de Kunduz na câmara baixa do parlamento afegão.

Falando à agência de notícias AFP, Amruddin Wali, do Conselho Provincial de Kunduz, contou que os rebeldes tomaram a capital num “combate de rua selvagem”.

Kunduz já estivera em poder do Talibã por um breve período em 2016, sendo logo liberada. Este atual avanço do grupo extremista no país integra uma campanha agressiva para aproveitar o vácuo de poder deixado pela retirada das tropas estrangeiras lideradas pelos Estados Unidos.

No Twitter, os militantes islamistas alegaram ter se apoderado de um grande número de veículos blindados, armas e outros equipamentos militares. Por sua vez, o Ministério da Defesa de Cabul declarou que as tropas governamentais estão lutando para recuperar essas duas cidades estratégicas: “As forças de comando lançaram uma operação de expulsão. Algumas áreas, inclusive a rádio nacional e prédios da TV, foram liberadas dos terroristas talibãs”, consta do comunicado oficial.

No sábado (07/08), os talibãs tomaram Sheberghan, capital da província de Jowzjan, também no norte do país, reduto do notório senhor da guerra Abdul Rashid Dostum.

Após capturar os distritos circundantes, os talibãs perseguiram um plano sustentado para tomar a cidade. “Isto é o princípio, e veremos como outras províncias cairão nas nossas mãos, muito em breve”, declarou um comandante talibã. As cidades dominadas já incluem:

Em entrevista à Aljazeera, Haroun Rahimi, professor assistente de direito da Universidade Americana do Afeganistão, disse que era improvável que o presidente Ghani pudesse cumprir suas promessas de combate:

“Ele não está mais no controle e não se trata mais do presidente Ghani. Trata-se de fazer uma transição mais amena e rápida, sem derramamento de sangue. A luta está às portas de Cabul. O relatório mostra que Cabul está sendo cercada. O tempo não está do lado do governo ”

Londres alerta os britânicos

Dentro de uma série de operações com o fim de debilitar o governo democraticamente eleito de Ashraf Ghani, os talibãs assassinaram o diretor do centro nacional de mídia e informação do Afeganistão, Dawa Khan Menapal em seis de agosto. O atentado ocorreu numa mesquita da capital afegã, Cabul, durante as solenes preces de sexta-feira. Como anunciaram os terroristas num comunicado, tratou-se de um “ato direcionado” para punir o porta-voz-chefe “por seus atos”.

Considerando o “agravamento da situação de segurança”, à medida que os combates com o Talibã se intensificam no Afeganistão, o Reino Unido apelou a todos os seus cidadãos para deixarem imediatamente o país: “Todos os britânicos no Afeganistão são aconselhados a partir agora por via comercial…É muito provável que os terroristas tentem realizar ataques no Afeganistão. Os métodos específicos de ataque estão evoluindo e sua sofisticação aumenta”, instou o Ministério do Exterior do Reino Unido.

Advertência da ONU

A enviada especial das Nações Unidas para o Afeganistão, Deborah Lyons, comentou neste sábado que a guerra no Afeganistão entrou numa fase “nova, mais mortífera e mais destrutiva”, com mais de mil civis mortos só em julho.

Advertindo que o país se encaminha para uma catástrofe, Lyons apelou ao Conselho de Segurança da ONU para emitir uma “declaração inequívoca de que os ataques a cidades têmque parar agora”.

Foto: Mohammad Asif Khan/APFonte Atimes, Aljazeera e DW.