Após quase três meses de bloqueio imposto por Israel, caminhões com ajuda humanitária voltaram a cruzar as fronteiras da Faixa de Gaza, levando alimentos, remédios e combustível para uma população exaurida por meses de guerra, fome e isolamento. A retomada da assistência, no entanto, não representa um gesto humanitário autêntico, mas sim uma resposta tardia e insuficiente às crescentes pressões internacionais contra a política israelense de cerco. Mais do que um alívio, a reabertura parcial das rotas de ajuda se insere em um plano mais amplo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu: a consolidação de um controle militar e político duradouro sobre Gaza.

Segundo informações do G1 (21/05/2025), Netanyahu afirmou que Israel não apenas coordenará o fornecimento de ajuda humanitária, mas também “tomará o controle da região”. A declaração revela a intenção de ocupar e administrar Gaza de forma direta ou por meio de forças aliadas, o que representa uma escalada perigosa no conflito e uma clara violação do direito internacional humanitário, que proíbe a anexação de territórios sob ocupação.

Durante os meses de bloqueio, organismos da ONU e organizações humanitárias relataram níveis de desnutrição aguda, colapso hospitalar e ausência de água potável em diversas partes da Faixa de Gaza. A Agência Brasil (21/05/2025) e a CNN Brasil destacam que a entrada dos primeiros caminhões foi marcada por atrasos deliberados, inspeções excessivas e limitações logísticas impostas por Tel Aviv. De acordo com o Brasil 247, a ajuda recebida até agora “não é capaz de reverter a catástrofe causada pelo bloqueio israelense”.

Especialistas em direito internacional têm criticado abertamente a conduta israelense. Para eles, a recusa prolongada em permitir a entrada de insumos básicos — mesmo diante de evidências de fome e crise sanitária — configura uma forma de punição coletiva à população palestina, o que é vedado pela Convenção de Genebra. A ONU, por sua vez, declarou em nota que a situação humanitária em Gaza é uma das piores das últimas décadas e que a entrada de ajuda precisa ser “livre, regular e segura” — o que, até o momento, não está garantido.

Enquanto isso, Netanyahu articula o controle de Gaza sob o pretexto de “garantir a segurança de Israel” e “evitar o retorno do Hamas”, segundo a cobertura do G1. O plano, no entanto, ignora a dimensão civil do território palestino, onde mais de dois milhões de pessoas vivem sob bombardeios frequentes, escassez generalizada e ausência de qualquer autonomia política.

A retomada da ajuda humanitária, portanto, não deve ser interpretada como um gesto de boa vontade, mas como parte de uma estratégia mais ampla de dominação territorial. Ao controlar os corredores humanitários e condicionar a entrada de suprimentos ao seu comando militar, Israel transforma o socorro emergencial em instrumento de controle político e diplomático — enquanto enfraquece qualquer possibilidade de reconstrução ou soberania palestina.

A crise atual escancara os limites da comunidade internacional em conter abusos prolongados contra populações civis. Sem uma mediação real que imponha a Israel o respeito ao direito internacional, a Faixa de Gaza seguirá como um laboratório de guerra assimétrica, onde a ajuda humanitária só entra quando e como o ocupante permite. Nesse contexto, salvar vidas não deveria depender da benevolência de quem bombardeia, mas da efetiva proteção dos direitos humanos — ainda ausentes sob os escombros do bloqueio.

https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/05/21/netanyahu-anuncia-plano-para-entrega-de-ajuda-humanitaria-em-gaza-e-afirma-que-israel-tomara-o-controle-da-regiao.ghtml

https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/05/20/onu-recebe-autorizacao-entrada-ajuda-humanitaria-gaza.ghtml

https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/internacional/audio/2025-05/caminhoes-com-ajuda-humanitaria-palestinos-voltam-chegar-em-gaza

https://www.brasil247.com/mundo/ajuda-humanitaria-comeca-a-chegar-a-gaza-mas-nao-alivia-crise-provocada-por-bloqueio-israelense