Na primeira semana de dezembro, o P5+1 (Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Rússia e China) entrou na sétima rodada de negociações com o Irã em Viena. O objetivo central dos EUA, compartilhado pelos ocidentais, é retornar ao acordo original em que o Irã poderia utilizar seu programa nuclear para fins pacíficos e sob monitoramento contínuo de órgãos internacionais.
Várias vozes têm peso nesse jogo. O Irã, apoiado por Pequim e Moscou, apresenta posturas duras e muitas vezes inflexíveis. O ministro das Relações Exteriores do Irã, Hossein Amir-Abdollahian, sugeriu que as negociações devem não apenas suspender as sanções internacionais, mas garantir que um futuro governo dos Estados Unidos não poderá impô-las novamente.
Por outro lado, em uma declaração conjunta, Reino Unido, França e Alemanha afirmaram que “O Irã retrocedeu em seu progresso diplomático e está rompendo com quase todos os compromissos elaborados em meses de difíceis negociações. O tempo está se esgotando”.
O impasse reflete o legado de instabilidade deixado pelo ex-presidente Donald Trump, que, em 2018, cancelou a participação americana no acordo fechado em 2015 por seu antecessor Barack Obama. À época, Trump argumentou que o acordo não era forte o bastante nem cobria um período longo o suficiente para garantir que o Irã não construísse armas nucleares. Foi então que Trump impôs duras sanções econômicas a Teerã. As medidas americanas, somadas à relutância de outros países em anular as sanções, levou o Irã a enriquecer urânio em quantidades acima do permitido pelo acordo inicial.
China, Rússia e Israel
Os iranianos se encontraram separadamente com diplomatas russos e chineses e não permitiram que os americanos participassem pessoalmente das conversações em Viena. Os norte-americanos se comunicaram por videoconferência.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, culpabilizou os americanos pelo impasse. “Os EUA, como culpados da crise nuclear iraniana, deveriam remover todas as sanções unilaterais ilegais contra o Irã e terceiros, incluindo a China”, disse Wang. “Com base nisso, o Irã retomará o cumprimento de seu compromisso no setor nuclear.” A China exerce um papel central dentro das discussões na medida em que é uma alternativa de peso para o mercado iraniano. Os chineses são responsáveis pela compra de uma imensa parcela dos barris de petróleo exportados pelo Irã.
Representando Moscou, Mikhail Ulyanov, principal negociador russo, expressou esperança de que um acordo possa eventualmente ser alcançado. Ele acredita que os contatos recentes entre Estados Unidos e o Irã “provam que ambos os lados levam muito a sério” a retomada do acordo, embora “suas visões sobre as formas e meios relevantes sejam diferentes”, disse ele no Twitter.
Do lado israelense, em tom agressivo, o primeiro-ministro Naftali Bennet disse que as negociações ocorrem enquanto o Irã intensifica o enriquecimento de urânio.“Peço a todos os países que estejam negociando com o Irã em Viena que adotem uma linha forte e deixem claro ao Irã que não podem enriquecer urânio e negociar ao mesmo tempo”, disse Bennett.
O primeiro-ministro israelense enviou seu ministro da Defesa, Benny Gantz, e o novo chefe do Mossad, David Barnea, a Washington semana passada, em meio a novas ameaças israelenses de um ataque a instalações nucleares iranianas. Israel vem preparando ataques militares na expectativa de que as negociações fracassem, o que deixaria o programa nuclear iraniano livre de qualquer grande acordo multilateral.
Um avanço nas negociações ainda não parece estar à vista, já que permanecem diferenças em dois textos que o Irã propôs na semana passada – um sobre o encerramento das sanções e outro sobre as medidas que o Irã precisa tomar para reduzir seu programa nuclear. Segundo uma matéria do The Guardian, “A batalha pelos textos não significa que os enormes pontos de desacordo remanescentes serão prontamente resolvidos, mas na semana passada os EUA questionaram se o regime iraniano estava interessado em um acordo ou estagnou enquanto seu programa nuclear doméstico avançava rapidamente”.
Fontes:The Guardian, Al Jazeera e Atimes
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