O presidente norte-americano Joe Biden, que desde sua posse mantém a política de distanciamento retomada por Donald Trump, requisitou ao governo cubano que atendesse às demandas dos protestos pacíficos que se iniciaram na ilha em julho deste ano. O presidente, tal como seus antecessores, utiliza-se do discurso pró-liberdade, acusando o país insular de ser um governo autoritário e repressivo, e atenta ao “sofrimento econômico” ao qual os cubanos são vitimados. No entanto, o Biden não pretende rever a política de embargo, iniciada em 1961 pelo presidente Dwight D. Eisenhower, ainda que esta seja condenada anualmente pela Organização das Nações Unidas, totalizando 29 condenações em 2021 – não houve em 2020 devido à pandemia do coronavírus.

Joe Biden segue na contramão do último governo Democrata nos Estados Unidos, já que Barack Obama, junto a Raúl Castro, caminhou para diminuir a tensão entre os dois países, retirando Cuba da lista de países patrocinadores do terrorismo, na qual se encontrava desde a presidência de Ronald Regan (1980-1988). A partir do governo de Donald Trump, porém, a postura beligerante e  a política antiterrorista são reestabelecidas, inserindo Cuba novamente como patrocinadora do terrorismo e instituindo quase 250 novas sanções. 

Um exemplo do retrocesso nas relações EUA-Cuba é a dissolução da política de Obama que visava o fechamento da prisão na Baía de Guantánamo, condenada pela comunidade internacional. Trump, quando eleito, interrompeu o esvaziamento do presídio e suspendeu a transferência de detentos para outros países, como a administração do governo anterior vinha realizando. Para ele, é de suma importância fazer de Guantánamo uma prisão adequada a terroristas, argumentando que “eles devem ser tratados como os terroristas que são”. 

O governo atual, no que diz respeito à relação com Cuba, adota uma política similar. A permanência do país como patrocinador do terrorismo permite o acirramento das pressões sobre o sistema financeiro e do controle sobre as transações de dólares com Cuba, legitimado pela chamada “guerra ao terror”, a mesma que justificaria as violaçõs dos direitos humanos na Baía de Guantánamo. 

Com a pandemia do coronavírus, o embargo é denunciado por Cuba e pela ONU como um empecilho na contenção da doença na ilha. A dificuldade em exportar mercadorias a Cuba não foi alterada e, assim, a importação de equipamentos, remédios e tecnologias configura-se como um processo árduo. O país operou na tentativa de contornar o embargo e produzir seus próprios insumos, porém os esforços não foram suficientes para conter o aumento significativo dos casos desde o final de junho de 2021.

Os protestos no território cubano são uma expressão da insatisfação com essa expansão da Covid-19, com o “sofrimento econômico” e com o cerceamento das liberdades da população. A resposta do presidente Miguel Díaz-Canel é culpabilizar o embargo econômico e financeiro estadunidense, afirmando tratar-se de “uma política de asfixia econômica para provocar revoltas sociais no país”. Díaz-Canel não comentou os gritos pela sua renúncia e por liberdade política. Em junho deste ano, porém, declarou, ao ser confrontado por jovens artistas, que “A liberdade de expressão na Revolução continua tendo como limite o direito da Revolução de existir”.