Os EUA ofereceram refúgio temporário a milhares de cidadãos de Hong Kong que foram forçados a fugir do país ou que não estavam aptos a receber o visto oferecido pelo Reino Unido. Acredita-se que milhares de pessoas de Hong Kong tenham fugido para os Estados Unidos desde que os protestos anti-extradição estouraram em 2019, com forte repressão por parte das autoridades locais. Emigrantes que estavam de alguma forma sofrendo acusações relacionadas à segurança nacional, buscaram inicialmente áreas como Taiwan e México antes de buscar asilo nos EUA.
Segundo o recém-anunciado programa Deferred Enforced Departure (DED), espera-se que a maioria dos residentes de Hong Kong nos Estados Unidos se qualifiquem para um visto, disse um alto funcionário do governo à agência de notícias Reuters. O DED poderia beneficiar 1.500 a 2.000 estudantes de Hong Kong nos EUA e possivelmente dezenas de milhares de cidadãos que entraram no país com vistos de turista ou outros tipos de autorização.
Em um memorando divulgado pela Casa Branca, o presidente Biden instruiu o Departamento de Segurança Interna a implementar um “adiamento da remoção” por até 18 meses para cidadãos de Hong Kong que residem Estados Unidos. De acordo com o documento: “Desde a imposição da Lei de Segurança Nacional (NSL) em junho de 2020, a polícia de Hong Kong continuou uma campanha de prisões por motivos políticos, levando sob custódia pelo menos 100 políticos da oposição, ativistas e manifestantes por acusações relacionadas à NSL”. Biden acrescentou ainda que mais de 10.000 indivíduos foram presos por outras acusações relacionadas a protestos antigovernamentais.
O presidente americano disse que oferecer um refúgio seguro para os residentes de Hong Kong favorece os interesses dos EUA na região do sudeste asiático. Ele afirmou ainda que os EUA não vacilarão em seu apoio ao povo de Hong Kong. Por outro lado, Biden afirmou que serão excluídos do programa pessoas condenadas por crimes ou contravenções nos EUA e indivíduos que retornarem voluntariamente a Hong Kong ou à China após a data do memorando.
O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, Dominic Raab, tuitou: “Saúdo calorosamente a decisão generosa dos EUA de anunciar uma oferta de migração para os habitantes de Hong Kong”. Ele disse que o Reino Unido está defendendo o povo de Hong Kong, inclusive oferecendo um caminho para a cidadania por meio de passaportes do British National (Overseas).
O gabinete do Comissário do Ministério das Relações Exteriores da China recentemente declarou que condena e se opõe firmemente ao memorando sobre Hong Kong emitido pelos EUA. Um porta-voz não identificado disse que o texto manchou a Lei de Segurança Nacional em Hong Kong, interferiu nos assuntos internos da China em geral e espezinhou o direito internacional e as normas básicas que regem as relações internacionais.
Entre 9 de junho de 2020 e 28 de fevereiro de 2021, um total de 10.242 pessoas envolvidas nos protestos anti-extradição de 2019 foram presas pela Polícia de Hong Kong, de acordo com o Departamento de Justiça local. Dos 2.521 que foram processados, 720 enfrentaram acusações de motim, enquanto o resto foi acusado de participação em assembleias ilegais, incêndio criminoso e insulto à bandeira nacional. Até abril, 883 pessoas foram condenadas, 50 tiveram suas acusações retiradas e 186 foram absolvidas.
Em novembro de 2019, mais de mil jovens, incluindo manifestantes e estudantes, foram cercados pela polícia no campus da Universidade Politécnica de Hong Kong por 13 dias após confrontos no exterior. Até fevereiro deste ano, 1.388 pessoas relacionadas a este incidente foram presas. Alguns fugiram de Hong Kong antes de serem acusados.
Não há dados oficiais sobre quantas pessoas deixaram Hong Kong desde a implementação da Lei de Segurança Nacional em 30 de junho de 2020. Os jornais locais estimam que mais de 100.000 pessoas se mudaram. A análise mostrou que a maioria das pessoas que se mudaram para o Reino Unido tinha entre 30 e 45 anos e levou os filhos. Vamos continuar acompanhando.
Foto: Tyrone Siu/Reuters