Cadê o glamour?

Decepção! Cadê o glamour? Há bastante tempo eu não ia ao cinema. Tomei coragem e resolvi deixar a preguiça de lado. Lembro-me de uma frequência que chegou a ser semanal em tempos de adolescência. Cinema de rua, com fila na calçada. As balas e os chocolates eram adquiridos com garotos, que carregavam as guloseimas em bandejas, penduradas no próprio pescoço.

Chegávamos cedo com a ideia de assistir ao trailer e, já, decidir qual seria o próximo evento. Queríamos sentar juntos, no fundo. Assim, ficávamos observando o lanterninha circulando e o romantismo dos casais que pouco se preocupavam com o filme.

Luzes acesas e créditos passando na tela. Saída rápida. O lanche pós-filme era obrigatório, momento de descontração nas análises dos longas-metragens. Os guardanapos: usados para nossas avaliações individuais. O mínimo de uma, máximo de cinco estrelas. Depois, comparávamos nossas impressões. Discussões intermináveis em tardes alegres, verdadeiramente inesquecíveis. 

Jamais esquecerei a cena real dos aplausos, de pé, no final do filme “Sociedade dos poetas mortos”. “Oh captain, my captain!” de Walt Whitman e unanimidade de guardanapos com 5 estrelas. Retornamos ao mesmo filme, apresentando Mr. Keating para os amigos que não puderam comparecer à primeira exibição. Os imperdíveis filmes dos Trapalhões, o arremesso do imperador no Retorno de Jedi ou o Rock Estrela a que assistimos, porque, em uma única cena, pudemos apreciar os seios de uma bela artista. 

Por diversas motivações, infelizmente, verificamos o esvaziamento das salas de cinema e a razão, sem dúvida, vem advento da TV a cabo e das plataformas de streaming. No lar, a diversão é mais barata, a pipoca de micro-ondas quebra um galho, o refrigerante não é de máquina, já está na despensa; a cama é confortável e é cálido o cobertor; o banheiro é acessível nos momentos de pausa, determinados com a ajuda do controle remoto; a programação pode ser alterada a qualquer instante…  Ah, a tela da TV já não é tão pequena como nos velhos tempos. A qualidade da imagem: imbatível!

A antiga sala de cinema não existe há muitos anos. Muitos mesmo. Atualmente, lá, funciona uma igreja, uma drogaria ou um pet shop. O cinema está no shopping center, porém a localização não desestimula novos passeios. Temos no shopping, inclusive, mais segurança, infinitas opções na praça de alimentação, estacionamento, caixa eletrônico…

A magia se exauriu. É bem verdade que a ausência dos velhos amigos também incomoda, saudade que me envolve e não me abandona. Todavia, na comparação, surgem diversos questionamentos: Onde está o lanterninha? Por que não escutamos os aplausos após o fim do trailer? Como comprar balas, chocolates e pipocas com desmedidos valores? Onde foi parar aquele garoto que subia na poltrona para projetar, com as mãos, imagens sombreadas na tela? 

Lembrei-me dos imortais versos do Ataulfo Alves: “Eu daria tudo que tivesse pra voltar ao tempo de criança. Eu não sei por que a gente cresce se não sai da gente essa lembrança…”. Nostalgia se aprofunda e não vai embora, resumida no último verso da canção: “Eu era feliz e não sabia!”