Já faz tempo que uma grande amiga me convida pra fazer uma visita. Vez por outra o marido manda uma indireta: “a molecada aqui adora você”. Eu já tava sem graça, já não aguentava mais inventar as piores desculpas. Teve um final de semana que cheguei ao ponto de falar que minha mãe tinha caído na rua e tava no hospital. O marido, paulista insistente, disse que um tombo não era motivo pra adiar de novo.
Pois bem. Passei uma semana me preparando pro grande dia. Ela mora em Coelho Neto. Vejam: não estamos falando aqui de uma visita simples de chinelos, mas de um movimento pendular, aquele em que as pessoas passam mais tempo no trajeto que na função. Eu não tenho carro, mas fazemos tudo pela amizade.
Preparei um lanche pra viagem, fiz a mochila. Antes de sair de casa, mandei uma mensagem pra perguntar o endereço. “É na Eugênio do Mato, mas desce na estação que eu te pego”. Entrei na Arcoverde, baldeei em Botafogo e segui rumo ao norte.
Na estação Maracanã entrou um casal conversando. Pararam do meu lado. Dei um passo pra esquerda pra manter a distância. Com a máscara do Flamengo no queixo, o cara soltou assim: “o Macron tá pegando todo mundo”. Na mesma hora saquei o celular. O que o Macron tá fazendo? Será que é a treta com a Austrália? Eu tinha visto que ele queria irritar a população francesa exigindo o passaporte de vacinação pra tudo. Eu concordo! Não quer tomar vacina, não vai circular. Ah, porra! Não aguento mais isso de negacionismo. Já deu. Passei um ano e meio sonhando com uma vacina e tem gente acreditando na grande conspiração chinesa? Um amigo rico e pós graduado postou esses dias aquela foto da menina com chaves grudadas no braço pelo suposto magnetismo da Astrazeneca. Que desonestidade intelectual. Que vergonha, que saco.
O fato é que não achei nada novo sobre o Macron. Cheguei em Coelho Neto. Desci na estação. Nada da Carolina. Resolvi ligar. Quem liga pra alguém hoje em dia? Eu liguei porque a visita tinha um clima de nostalgia. Achei que fazia sentido. “Fala, Dona Maria Carolina… já tô aqui”. Ela respondeu que não tava me vendo. Eu disse que tava de preto, que “estou sempre de preto!”. Comecei a acenar pro além, pro nada, pro sul, pro leste. Ela não me viu. “Ô cabeludo, tu tá na saída tal?”. Olhei pro nome das ruas, nada que ela disse tava nas placas. Perguntei pra um coroa que tava vendendo guarda chuva: “meu chefe, a Eugênio do Mato é aqui perto?”. A resposta foi avassaladora. “Poxa, meu filho… essa aí fica em Thomaz Coelho”.
Ainda desnorteado, entrei num táxi qualquer e pedi pra ligar o GPS. “Vai pro coelho, irmão… pro Thomaz Coelho”. Tirei a máscara pra respirar. O motora também tava sem máscara. Chegando na estação certa, vi a Carol e o Rodrigo. Eles tavam lá, parados, abraçados, me esperando com cara de aflição.
Já desci do táxi acendendo 3 cigarros de nervoso e ansiedade. Quando abracei a Carol, o paulista alertou: “oh mano, toma cuidado que a macron tá pegando todo mundo”.
(07/01/2022)