A China está realizando uma grande demonstração de força militar aérea e naval no entorno de Taiwan, incluindo o disparo de mísseis balísticos. Os exercícios militares ocorrem após a visita da política americana Nancy Pelosi à ilha, em meio a sua viagem por países do sudeste asiático. A China vê Taiwan como uma província separatista e que, eventualmente, estará sob o controle de Pequim novamente. Por outro lado, Taiwan se vê como um país independente, com sua própria constituição e líderes democraticamente eleitos.

As tensões envolvendo a ilha capitalista e a China continental não são novas. O presidente da China, Xi Jinping, disse que a reunificação com Taiwan deve ser cumprida e não descartou o possível uso da força para conseguir seus objetivos.
 

Taiwan é uma ilha a cerca de 160 quilômetros da costa sudeste da China.
Fica na chamada “primeira cadeia de ilhas”, que inclui uma lista de territórios parceiros dos EUA que são cruciais para a política externa americana. Se a China assumir o controle de Taiwan, alguns especialistas ocidentais sugerem que ela poderia ser mais livre para projetar poder na região oeste do Pacífico e poderia até ameaçar bases militares dos EUA em áreas distantes como o Havaí. Mas a China insiste que suas intenções são puramente pacíficas.

 

Taiwan sempre foi separada da China?

Fontes históricas sugerem que a ilha ficou sob total controle chinês no século 17, quando a dinastia Qing começou a administrá-la. Então, em 1895, eles entregaram a ilha ao Japão depois de perder a primeira guerra sino-japonesa. A China tomou a ilha novamente em 1945, depois que o Japão perdeu a Segunda Guerra Mundial.

Mas uma guerra civil eclodiu na China continental entre as forças do governo nacionalista lideradas por Chiang Kai-shek e o Partido Comunista de Mao Tsé-Tung. Os comunistas venceram em 1949 e assumiram o controle em Pequim. Chiang Kai-shek e o que restou do partido nacionalista – o Kuomintang – fugiram para Taiwan, onde governaram pelas décadas seguintes.

A China aponta para essa história para dizer que Taiwan era originalmente uma província chinesa. Mas os taiwaneses apontam para a mesma história para argumentar que nunca fizeram parte do Estado chinês moderno que foi formado após a revolução em 1911 – ou da República Popular da China que foi estabelecida por Mao em 1949.

O Kuomintang tem sido um dos partidos políticos mais proeminentes de Taiwan desde então, governando a ilha por uma parte significativa de sua história. Atualmente, apenas 13 países (mais o Vaticano) reconhecem Taiwan como um país soberano. A China exerce uma pressão diplomática considerável sobre outros países para que não reconheçam Taiwan ou façam qualquer coisa que implique reconhecimento.

Vários especialistas ocidentais acreditam que Taiwan poderia, na melhor das hipóteses, tentar retardar um ataque chinês, tentar impedir um desembarque em terra por forças anfíbias chinesas e montar ataques de guerrilha enquanto espera por ajuda externa. Essa ajuda pode vir dos EUA, que vendem armas para Taiwan.

Até agora, a política de “ambiguidade estratégica” de Washington significava que os EUA não estavam deliberadamente claros sobre como defenderiam Taiwan no caso de um ataque. No campo diplomático, os EUA atualmente aderem à política de “Uma só China”, que reconhece apenas um governo chinês – em Pequim – e tem laços formais com a China, e não com Taiwan. 

Há poucos meses, no entanto, Joe Biden pareceu endurecer a posição de Washington. Questionado se os EUA defenderiam Taiwan militarmente, o presidente respondeu: “Sim”. 

As relações entre Taiwan e China parecem ter se deteriorado acentuadamente após a visita de Pelosi, que Pequim condenou como “extremamente perigosa”. A China afirma que seus exercícios militares estão focados em seis zonas estratégicas ao redor de Taiwan, três das quais se sobrepõem às águas territoriais da ilha. Taiwan diz que as operações militares de Pequim forçam navios e aviões a mudarem suas rotas e, portanto, violam sua soberania e equivalem a um bloqueio. Taiwan também alertou as empresas da ilha para esperarem ataques cibernéticos intensos nos próximos dias.

As tensões entre a China e Taiwan têm aumentado

Em 2021, a China aumentou significativamente a pressão sobre a ilha enviando aeronaves militares para a Zona de Defesa Aérea de Taiwan, uma área onde aeronaves estrangeiras são identificadas, monitoradas e controladas para o interesse e defesa da segurança nacional. O número de aeronaves chinesas relatado atingiu o pico em outubro de 2021, com 56 incursões em um único dia, com o ministro da Defesa de Taiwan dizendo que as relações eram as piores em 40 anos.

Por que Taiwan é importante para a economia mundial?

Taiwan domina a indústria global de semicondutores, componentes cruciais usados ??em praticamente tudo no mundo digital, desde smartphones e dispositivos médicos até carros e aviões. Para se ter uma ideia, uma única empresa de Taiwan – a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company ou TSMC – tem mais da metade do mercado mundial. Uma aquisição chinesa em Taiwan poderia dar a Pequim algum controle sobre uma das indústrias mais importantes do mundo. A ilha responde atualmente por 64% da receita de fabricação de semicondutores. A Coreia do Sul, o segundo maior produtor, controla menos de um quinto do mercado.

Em entrevista a Al Jazeera, James Lee, pesquisador da Academia Sinica em Taiwan, afirmou que: “A indústria de semicondutores também é fundamental para a segurança da ilha porque eleva a importância estratégica de Taiwan para outros países, especialmente os Estados Unidos e a Europa Ocidental. A China depende de Taiwan porque, embora as empresas chinesas possam projetar semicondutores, elas têm apenas uma capacidade limitada para fabricá-los”. Esse é o motivo pelo qual as sanções impostas a Taiwan não incluem chips e semicondutores


O povo taiwanês está preocupado?

Apesar das recentes tensões entre a China e Taiwan, pesquisas sugerem que muitos taiwaneses estão relativamente tranquilos. Em outubro de 2021, a Fundação de Opinião Pública de Taiwan perguntou às pessoas se elas achavam que, eventualmente, haveria uma guerra com a China. Quase dois terços (64,3%) responderam que não.Pesquisas separadas indicam que a maioria das pessoas em Taiwan se identifica como taiwanesa – abraçando uma identidade distintamente diferente. Pesquisas realizadas pela Universidade Nacional de Chengchi desde o início da década de 1990 indicam que a proporção de pessoas que se identificam como chinesas, ou chinesas e taiwanesas, caiu e que a maioria das pessoas se considera taiwanesa.

Pesquisa e Tradução: Paloma Rodrigues /  Revisão: Victor Maurício

Fontes: BBC News e Al Jazeera / Imagem: BBC News