Normalmente já complicadas, as relações entre a Argélia e o Marrocos têm se deteriorado, especialmente como resultado da questão a respeito do Saara Ocidental. A normalização das relações diplomáticas entre Marrocos e Israel – em troca do reconhecimento pelos Estados Unidos da “soberania” marroquina sobre aquele território – alimentou tensões com a Argélia, que denunciou “manobras estrangeiras” para desestabilizar a situação”. (Fonte: Estado de Minas)
A Argélia rompeu formalmente relações diplomáticas com o vizinho Marrocos, com o ministro das Relações Exteriores citando uma série de supostos atos hostis.
A mudança culmina um período de tensão crescente entre os países do Norte da África que estão atolados em uma rivalidade de décadas, com suas fronteiras fechadas. Não houve reação imediata do Marrocos.
“A Argélia decidiu romper as relações diplomáticas com o Marrocos”, disse o chanceler Ramtane Lamamra em entrevista coletiva, na qual leu uma declaração do presidente.
O anúncio foi feito quase uma semana depois que o presidente Abdelmadjid Tebboune disse em uma reunião do Conselho de Alta Segurança da Argélia que “atos hostis incessantes perpetrados pelo Marrocos significaram a necessidade de uma revisão nas relações entre os dois países e a intensificação dos controles de segurança” nas fronteiras ocidentais com o Marrocos, informou a agência de notícias oficial APS.
Os países são aliados de nações ocidentais, e a mudança corria o risco de complicar a diplomacia na região. Ambos são importantes na luta contra o terrorismo na região vizinha do Sahel.
O secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Abdul Gheit, pediu a ambos que evitem uma nova escalada. Ele expressou esperança de que os dois países possam manter um “nível mínimo de laços” para garantir estabilidade para eles próprios e na região.
O ministro das Relações Exteriores da Argélia citou um acúmulo de queixas contra o Marrocos, levando à decisão do último dia 24 de agosto.
Ele também denunciou “atos massivos e sistemáticos de espionagem” por parte do Marrocos, uma referência às alegações de que os serviços de segurança do reino usaram spyware Pegasus de fabricação israelense contra seus funcionários e cidadãos, disse a APS. O Marrocos nega veementemente tais afirmações.
Outras críticas variaram de comentários relatados pelo embaixador do Marrocos na ONU, em meados de julho, até comentários recentes do ministro das Relações Exteriores de Israel em uma visita histórica ao Marrocos como parte da normalização dos laços.
“O Marrocos transformou o seu território em uma plataforma que permite que potências estrangeiras falem com hostilidade sobre a Argélia”, disse Lamamra, citando a APS. Para a agência oficial de notícias, ele fez alusão a um comentário do chanceler israelense Yair Lapid no Marrocos neste mês, no qual se referia, entre outras coisas, ao esforço da Argélia para impedir que Israel tivesse o status de observador na União Africana.
“Desde 1948, nenhum oficial israelense fez uma declaração hostil a um país árabe de outro país árabe”, disse Lamamra, citando a APS.
O embaixador do Marrocos na ONU teria dito que o povo da região berbere de Kabyle, na Argélia, deveria ter o direito de determinar seu status. Ele também citou as alegações da Argélia de que o Marrocos apoia um grupo separatista em Kabyle, conhecido como MAK, que a Argélia colocou em uma lista de terrorismo. A Argélia sugeriu que MAK teve um papel em incêndios florestais este mês na região de Kabyle, que matou muitas pessoas, incluindo mais de duas dúzias de soldados.
A questão de Kabyle lembra o apoio da Argélia a uma candidatura da Frente Polisario, um movimento pró-independência com base no sul da Argélia, pela autodeterminação no disputado Saara Ocidental que foi anexado pelo Marrocos em 1975.
Marrocos quer autonomia para a região sob sua supervisão, enquanto a Argélia quer autodeterminação por meio de um referendo.
“Por todas essas razões, com base nos fatos… Eu anunciei, a Argélia decidiu romper relações”, disse Lamamra.
Foto: AFP/Getty Images