O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, afirmou à mídia estatal do país que os iranianos que protestam contra a escassez de água na região sudoeste, atingida pela seca, não podem ser culpados por seu desespero e pediu às autoridades que lidem com a crise.
Os comentários de Khamenei sobre os protestos na província de Khuzistão vêm a público enquanto a mídia estatal do Irã afirma que um jovem foi morto a tiros na província vizinha de Lorestão e outras sete pessoas ficaram feridas. Segundo a imprensa os tiros foram disparados por elementos desconhecidos.
A Anistia Internacional, no entanto, alega que pelo menos oito pessoas foram mortas desde o início dos protestos: “Imagens de vídeo verificadas pela Anistia e relatos consistentes do solo indicam que as forças de segurança usaram armas automáticas mortais, espingardas com munição indiscriminada e gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes”, disse o documento divulgado pela entidade.
As autoridades culparam os “desordeiros”, mas ativistas disseram nas redes sociais que os manifestantes foram mortos pelas forças de segurança no Khuzistão, onde atrasos esporádicos ou blecautes foram relatados por vários dias. O observatório de bloqueio de Internet NetBlocks divulgou que poderia “corroborar relatórios de usuários referentes à interrupções na rede celular, consistente com um desligamento regional da Internet para controlar protestos”.
A economia do Irã foi prejudicada por duras sanções impostas pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e pelo efeito da pandemia de covid-19. Trabalhadores, incluindo milhares no importante setor de energia, e aposentados protestaram por meses em meio ao descontentamento com a má administração, o desemprego e a inflação.
O presidente Hassan Rouhani disse em um discurso televisionado na quinta-feira que os iranianos têm “o direito de falar, se expressar, protestar e até mesmo ir às ruas, dentro da estrutura dos regulamentos”.
O Khuzistão é a principal região produtora de petróleo do Irã e uma das mais ricas, mas tem sido assolada por secas e escassez de água durante anos devido às ondas de calor do verão e às tempestades de areia sazonais que chegam da Arábia Saudita e do vizinho Iraque. Neste ano, a situação piorou em razão das temperaturas extremamente altas.
As autoridades reconhecem que a província foi duramente atingida, mas afirmam que os grupos separatistas são os culpados pela violência e acusam a mídia estrangeira de tentar tirar vantagem da situação para se opor ao establishment teocrático.