A recente decisão do governo Trump de congelar US$ 2,2 bilhões em verbas federais destinadas à Universidade de Harvard desencadeou uma crise sem precedentes na relação entre o poder público e as instituições acadêmicas nos Estados Unidos. A medida, justificada pela Casa Branca como uma resposta ao suposto “antissemitismo” e à promoção de “ideologias divisivas” em universidades de elite, foi formalmente contestada por Harvard em uma ação judicial movida em Boston. A universidade alega que as exigências do governo violam a independência acadêmica e os direitos constitucionais garantidos pela Primeira Emenda.

Entre as imposições da administração Trump estão auditorias ideológicas, o desmonte de departamentos de diversidade e inclusão, e restrições à presença de estudantes internacionais. Segundo reportagem da CNN, o governo argumenta que Harvard promove “ideologias divisivas” e falha em apoiar estudantes judeus. Em resposta, o presidente de Harvard, Alan M. Garber, defendeu a autonomia acadêmica da instituição, afirmando que tais medidas representam uma interferência indevida nas operações universitárias.
Especialistas alertam para os riscos dessa política.
Em entrevista ao Financial Times, representantes da American Association of University Professors e do Council for Higher Education Accreditation criticaram as ações do governo, afirmando que “as medidas ameaçam a independência acadêmica e refletem uma tendência autoritária”. Além disso, a Vanity Fair destacou que a resistência de Harvard às pressões governamentais tem recebido apoio público e financeiro, contrastando com outras instituições que cederam e sofreram danos reputacionais.

Paralelamente, o país enfrenta uma onda de protestos estudantis contra a guerra em Gaza, com mais de 2.300 prisões registradas em universidades como Columbia, Emory e a Universidade do Sul da Califórnia. A repressão a essas manifestações, incluindo a prisão de estudantes e professores, levanta preocupações sobre a liberdade de expressão nos campi. A BBC relata que, em alguns casos, a polícia utilizou balas de borracha e spray de pimenta para dispersar os protestos.

A confluência dessas ações — cortes de verbas, imposições ideológicas e repressão a protestos — sinaliza uma escalada na tentativa do governo de controlar o ambiente acadêmico. Observadores argumentam que essas medidas representam uma ameaça direta à liberdade acadêmica e à autonomia das instituições de ensino superior. A resposta de Harvard, ao buscar respaldo legal contra as ações do governo, pode estabelecer um precedente crucial na defesa dos princípios fundamentais que regem a educação nos Estados Unidos.