A Rússia lançou vários mísseis sobre cidades e vilas em toda a Ucrânia nesta segunda-feira. Pela localização dos ataques, é perceptível que Moscou procurou atingir alvos bem distantes das linhas de frente, incluindo a capital Kiev.
O presidente russo afirmou que os bombardeios foram uma vingança pela explosão que danificou a ponte que liga a península da Crimeia à Rússia. Putin chamou o ataque à Ponte Kerch de “ato terrorista” de Kiev e disse que “retaliações intensas” estão por vir. Os ucranianos estavam se preparando para retaliações desde a explosão de sábado. O ataque sobre a ponte afetou diretamente o abastecimento das forças russas no sul da Ucrânia. Além disso, a Ponte Kerch tem um aspecto simbólico muito forte, já que foi o prório Putin que a inaugurou em 2018, quatro anos após a retomada da Crimeia.
Na capital ucraniana, as explosões incendiaram carros de civis e o impacto de uma das bombas abriu uma imensa cratera ao lado de um parque infantil. Em outros ataques pelo país, explosões atingiram prédios residenciais e usinas de energia, fazendo com que os moradores fossem obrigados a correr para porões e abrigos antiaéreos.
Em entrevista à Al Jazeera, o analista Ihar Tyshkevich afirmou que “eles (Russia) tentarão atingir o maior número possível de locais de infraestrutura civil como usinas de energia, geradores e assim por diante”.
Em uma reunião do Conselho de Segurança da Rússia, Putin disse que “um ataque maciço foi realizado com armas aéreas, marítimas e terrestres de longo alcance e alta precisão nas instalações de energia, comando militar e comunicações da Ucrânia.Se as tentativas de realizar ataques terroristas em nosso território continuarem, as respostas da Rússia serão duras e, em termos de escala, corresponderão ao nível de ameaças à Federação Russa. Ninguém deve ter dúvidas sobre isso.”
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, afirmou hoje que o país não será “intimidado” pelos bombardeios russos. “A Ucrânia não pode ser intimidada. Só pode ser unida. A Ucrânia não pode ser detida”, disse Zelenskyy em um vídeo postado nas redes sociais.
Reação Internacional
Um comunicado da Casa Branca afirmou que “os Estados Unidos condenam veementemente os ataques de mísseis da Rússia hoje em toda a Ucrânia. Esses ataques mataram e feriram civis e destruíram alvos sem propósito militar. Eles mais uma vez demonstram a brutalidade dessa guerra ilegal de Putin contra o povo ucraniano”.
Biden fez um novo apelo à Rússia para retirar todas as suas tropas da Ucrânia.
“Esses ataques reforçam ainda mais nosso compromisso de permanecer com o povo da Ucrânia pelo tempo que for necessário”, disse ele. “Juntamente com nossos aliados e parceiros, continuaremos a impor sanções à Rússia por sua agressão, suas atrocidades e crimes de guerra. Forneceremos o apoio necessário para que as forças ucranianas defendam seu país e sua liberdade.”
O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse estar “profundamente chocado”. Já o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, classificou os ataques como “horríveis e indiscriminados”.
O presidente francês, Emanuel Macron, expressou “extrema preocupação, pois os ataques causaram baixas civis” e renovou sua promessa de ajuda militar à Ucrânia.
O secretário de Relações Exteriores britânico, James Cleverly, publicou no twiter que “o disparo de mísseis da Rússia em áreas civis da Ucrânia é inaceitável, além de ser uma demonstração de fraqueza de Putin, não de força”.
Comissário da ONU para os Refugiados teme aumento de deslocados internos
Após o bombardeio das principais cidades ucranianas, o chefe da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), Filippo Grandi , alertou para um crescente movimento de refugiados. O bombardeio de alvos civis e “infraestruturas não militares” significa que a guerra está ficando mais dura e mais difícil para os civis, disse Grandi. “Temo que os eventos das últimas horas resultem em mais fugas.”
No entanto, com o apoio internacional, a Ucrânia está melhor preparada hoje do que no início da guerra. A escalada não significa necessariamente que muitos ucranianos estão fugindo para países vizinhos.
Há pessoas que “só fogem das bombas por algumas horas” e depois voltam para casa. Mas se houver uma grande destruição e as pessoas não tiverem mais acesso a alimentos básicos ou aquecimento, levará mais tempo para fugir. De acordo com Grandi, existem atualmente de seis a sete milhões de pessoas deslocadas internamente na Ucrânia.
Apagões de energia e o medo do inverno
Os ataques russos à rede elétrica da Ucrânia causaram apagões em muitas partes do país nesta segunda-feira, aprofundando os temores de interrupções no inverno e levando Kiev a interromper as exportações de eletricidade.
Quatro regiões ficaram temporariamente sem eletricidade e o fornecimento foi interrompido em várias outras áreas. As autoridades pediram a civis e empresas que limitassem o uso de energia. O Ministério da Energia informou que estava interrompendo as exportações de eletricidade para a rede europeia após o maior ataque ao sistema de energia desde o início da guerra em fevereiro.
Fontes: NY Times, DW Brasil, Al Jazeera. Zeit e EuroNews